O detox que a publicidade precisa, é da própria publicidade

Gabriel Lopes de Paula
3 min readMay 13, 2019

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Empatia. Mudança. Diversidade. Representatividade. Bolha.

Estes foram os termos que eu mais ouvi na edição 2019 da Conferência do Grupo de Planejamento, um evento que aconteceu no dia 27/03 em São Paulo, no Unibes Cultural.

Sabe o que é mais incrível? Talvez tenham sido os mesmos termos que eu ouvi na 1ª e única vez que eu fui em uma Conferência do GP, na edição de 2017. Engraçado, né?

O evento este ano se propôs a falar sobre a toxidade das agências, da nossa relação com política, consumo e informação, e de que maneira conseguimos refletir, discutir e apontar caminhos “Detox” para os mais diversos temas relacionados ao universo dos estrategistas de comunicação. O conceito é bonito, a prática é só mais um reencontro de amigos do mercado falando como é importante fazermos coisas que nunca fazemos, com palestras que reproduzem frases de efeitos bonitas para o Meio e Mensagem e com pouquíssimas pessoas reais trazendo conteúdos reais. Estamos falando de um evento que trouxe como tema o “Detox” na mesma semana que a planilha das agências viralizou pelo 3º ano consecutivo.

Sim, a publicidade está girando em círculo, e consequentemente, seus próprios eventos do mercado. Não são propositivos. Não trazem solução. Falam do problema, às vezes até fala das possíveis soluções, mas é sempre de maneira “generalizada”. Precisamos disto. Precisamos daquilo. Mas não fazemos nem isto, nem aquilo.

Teve Detox Masculinidade, mediado por 1 mulher, com 3 homens refletindo o local de fala dos homens na sociedade e 1 deles dizendo que falta “espaço” para o homem ser homem.

Teve Detox contra o ódio mostrando que posicionamento progressista faz parte da estratégia de marketing multimídia para fortalecer o amor. Teve Detox Seriedade com aquela pergunta que todo mundo faz para um humorista: qual o limite do humor? Teve alguns Detox de planejadores falando sobre o mercado de planejamento e como precisamos nos adaptar às mudanças do mercado, como é difícil ir para fora do Brasil, voltar e ter que se adaptar ao processo de trabalho Tupiniquim, e é claro, dando dicas para os mais novos baseado única e exclusivamente em sua própria experiência. Opa, sim, todos cheios de privilégios, claro.

Se um bom planejador precisa sempre estar atento ao que acontece fora de sua bolha, por que a Conferência reproduz os mesmos questionamentos superficiais e erros que o mercado repete? Por que ficamos sempre no discurso, “discutindo sobre o que importa”, quando no dia seguinte a rotina na agência vai ser exatamente a mesma coisa? E se começássemos a olhar para os eventos de Design ou de Arquitetura e tentar absorver algo deles para o mercado de comunicação? Do ponto de vista acadêmico e mercadológico. E se começássemos a olhar para a periferia? O que os Saraus, coletivos culturais e empreendedores das periferias podem nos ensinar em uma Conferência de Planejamento? Alguma possibilidade de existir algum Hackaton nestes painéis? Ou talvez um formato que coloque oficinas e jams de Design Sprint? Cadê os profissionais de tecnologia e dados trazendo reflexões e formas de trabalhar que não seja igual das agências? Quantas startups estavam presentes na Conferência? Quando os Movimentos Sociais vão ser convidados para uma Conferência? Imagina que louco, uma Conferência acontecendo em um espaço aberto num local acessível da cidade?

A Conferência deste ano não foi ruim, muito pelo contrário, eu achei muito interessante e a cerveja estava bem gelada. Mas, foi uma Conferência semelhante ao de todos os anos. O formato é o mesmo. As reflexões são as mesmas. As pessoas que fazem e vão são as mesmas. Ah, e todo ano o evento acontece em Pinheiros ou região. Todo ano falam de representatividade, mas de 54 convidados, só 6 eram negros. Todo ano falam de serem inclusivos, mas o preço do ingresso custa um rim. Talvez esteja na hora de entendermos que o Detox que a Publicidade e os estrategistas realmente precisam, seja da própria Publicidade.

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Gabriel Lopes de Paula

UX Researcher | Estrategista de Marca - Escrevo sobre reflexões e trabalhos da vida, do Design, da comunicação, da quebrada e de vários outros assuntos.